Pesquisadores da USP conseguiram pela primeira vez fazer com que um paciente de miosite por corpúsculo de inclusão (MCI)— uma doença inflamatória que leva à degeneração lenta dos músculos — voltasse a ganhar massa muscular. Para isso, usaram uma técnica simples: o paciente levantava pesos leves com um aparelho de medir pressão obstruindo parcialmente o fluxo sanguíneo. Nessa miosite, os músculos lentamente perdem o volume e a capacidade de produzir força . Ficam enfraquecidos principalmente as coxas e dedos. Os doentes têm dificuldades para fazer tarefas simples, como levantar da cadeira, segurar uma sacola, andar, engolir alimentos. O processo de atrofia geralmente começa perto dos 50 anos. A MCI é rara. Segundo pesquisas internacionais, para cada 1 milhão de pessoas, cerca de 14 sofrem com ela. Na pesquisa, um paciente de 65 anos, fez exercícios para fortalecer as coxas com o fluxo sanguíneo parcialmente obstruído. Ele levantava 20% do peso máximo que conseguia carregar, uma quantidade bem abaixo da recomendada por profissionais de educação física para pessoas saudáveis. Os cientistas temiam que cargas altas aumentassem a inflamação fazendo o paciente perder músculos, em vez de ganhá-los. Depois do treino, os músculos da coxa do idoso aumentaram o volume em 5% e ele conseguia levantar com as pernas cargas 11,6% mais pesadas. “Isso é significativo. É o que se espera em idosos saudáveis”, diz o autor da pesquisa, o doutor em Educação Física Bruno Gualano. Ele fez a pesquisa no Laboratório de Avaliação e Condicionamento em Reumatologia (LACRE) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Gualano destaca que a o tratamento não curou a doença, apesar da melhora no quadro do paciente. O idoso também relatou melhoras na qualidade de vida e teve mais facilidade para lidar com atividades do cotidiano. Ele teve uma melhora de 60% em um teste que consiste em sentar, levantar, andar até um cone distante três metros, contorná-lo e voltar. O tempo caiu de 16 para 10 segundos. Para saber mais sobre a pesquisa e assistir ao depoimento do paciente, veja o artigo em formato audiovisual no Journal of Visualized Experiments. O trabalho também foi publicado na revista Medicine and Science in Sports and Exercise. Perspectivas Os cientistas explicam que faltam mais pesquisas para se ter certeza que o exercício com vasos obstruídos é uma terapia útil para tratar doenças que causam perdas musculares, como a MCI, câncer e AIDS. Mas a pesquisa pode abrir portas para descobrir terapias que complementem remédios e possam melhorar a vida de quem sofre dessas doenças. O tratamento também tem potencial para ajudar idosos que sofrem de sarcopenia, a perda de massa muscular da velhice. Depois dessas pesquisas, o LACRE pretende iniciar estudos com doenças que atrofiam os músculos, mais comuns, como a polimiosite e dermatomiosite. Os pesquisadores provavelmente encontrarão mais pacientes que possam participar da pesquisa. Gualano foi orientado pelos professores Antonio Lancha Júnior, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, e Eloísa Bonfá, do HC. Colaboraram com o trabalho outros pesquisadores do HC, da EEFE, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e do Hospital Nove de Julho. Texto: Nilbberth Silva Fonte: Agência USP |
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