por Paulo Gentil
Muitas células do nosso corpo (incluindo a fibra muscular e os adipócitos) possuem receptores beta em suas superfícies, esses receptores beta têm alta afinidade pelas substâncias denominadas beta-agonistas. Os principais beta-agonistas de nosso corpo são a adrenalina e a noradrenalina, em suplementos, o mais comum de ser encontrado é a efedrina.
A união do beta agonista com seu receptor dá inicio a uma série de reações químicas mediadas pela ação da enzima adenilciclase. Estas reações estimulam a produção do mensageiro químico AMP-C, ativando enzimas fosforiladoras de proteínas. Muitas dessas proteínas também são enzimas, e a fosforilação pode tanto ativá-las quanto desativá-las. Nos adipócitos são ativadas as enzimas responsáveis pela "quebra" dos triacilgliceróis, nas células musculares ativa-se o metabolismo, e são causadas outras reações importantes.
Através das reações descritas acima, se supõe que os beta-agonistas controlem as reservas de gordura do corpo, a hipertrofia muscular, a resposta ao treinamento e até mesmo a distribuição de fibras musculares, além de aumentar a freqüência cardíaca, a força de contração ventricular e o volume sistólico, melhorando o fluxo sangüíneo para o cérebro e músculos. Sem esquecer do relaxamento da musculatura dos brônquios, facilitando a ventilação, dentre outros efeitos.
Além da atuação direta nos receptores, foram feitos dois estudos onde o uso de efedrina se mostrou eficaz na preservação dos níveis do hormônio da tireóide T3 durante dietas com baixa ingestão calórica (PASQUALI et al, 1992 e ASTRUP et al 1985). Sabendo que este hormônio tem grande influência no metabolismo, sugere-se prevenção de queda das taxas metabólicas. Porém este efeito ainda é questionado em longo prazo no estudo de ASTRUP, por exemplo, em uma fase posterior os níveis de T3 caíram para abaixo do encontrado antes da administração da droga, o que manifesta um mecanismo de realimentação negativa que pode tornar o estágio pós-tratamento ainda pior que o pré-tratamento. Este é, aliás, um dos maiores problemas das drogas beta-agonistas: o inevitável mecanismo de realimentação negativa, que facilita em grande parte uma rápida reversão dos resultados positivos.
Em 1992, ASTRUP publicou um artigo onde se mostra que a combinação de efedrina e cafeína, pode atenuar a perda de massa muscular em períodos de restrição calórica. Neste estudo feito em mulheres obesas, o grupo experimental perdeu cerca de 90% do peso proveniente da gordura, enquanto no outro grupo a média foi de 53%. O estudo de PASQUALI (1989) reforça estes dados, mostrando que a efedrina se mostrou eficiente na retenção de nitrogênio em obesos.
Apesar de mostrarem positivos há duas limitações nesses estudos: seu curto prazo e utilização de uma população específica (obesos).
Quanto a não obesos, tenho conhecimento de um estudo realizado em macacos, onde tanto os obesos quanto os magros tiveram a ingestão alimentar e o percentual de gordura reduzidos e seu metabolismo aumentado com a combinação de efedrina e cafeína (RAMSEY et al, 1998).
A partir destas pesquisas iniciais e suposições baseadas em mecanismos fisiológicos, se passou a usar de modo crescente drogas beta-agonistas. Atualmente estas substâncias são muito comercializadas nos chamados ECA, combinações de efedrina, cafeína e aspirina. Teoricamente, o papel de cada componente da combinação é o seguinte:
Efedrina - a efedrina aumenta a produção de ß-agonistas e atua ela própria como um ß-agonista.
Cafeína - o AMP-C é degradado pela enzima 3',5'-nucleotídeo-fosfodieterase o que torna o efeito dos beta-agonistas menos potente, porém as metilxantinas - como cafeína e teofilina - inibem esta reação e elevam a ação da efedrina. De fato isto foi verificado por DULLOO (1986) ao ministrar efedrina, cafeína ou a combinação de ambas em ratos obesos. Os resultados foram os seguintes:
- Sem redução ponderal com o uso de metilxantinas apenas.
- Efedrina sozinha promoveu perda de peso de 14% sendo 42% de gordura, além de aumento de 10% no gasto energético.
- A combinação de ambos levou a redução ponderal de 25% com 75% de perda de gordura 75% e aumento de 10% no gasto energético,
Aspirina - supõe-se que a aspirina iniba a realimentação negativa (ou feedback negativo), evitando que os efeitos se estabilizem em longo prazo. Não há evidências científicas desta afirmação, no entanto, estudos em curto prazo mostram que a aspirina não potencializa o efeito termogênico dos componentes acima (HORTON et al, 1996).
Algumas pessoas parecem ser sensíveis a esses três componentes, sendo necessário consultar um médico antes de usá-los e suspendê-los imediatamente diante do surgimento de qualquer reação adversa. Não é recomendado para: diabéticos, pessoas com problemas na tireóide, cardiopatas, hipertensos, pessoas que estejam usado inibidores de apetite, pessoas com úlcera, nem portadores de distúrbios alimentares ou psicológicos...
Freqüentemente aparecem os seguintes efeitos colaterais: distúrbios psíquicos, elevação da pressão arterial, elevação da freqüência cardíaca, problemas cardiovasculares, agressividade, insônia, falta de concentração, náuseas, tremores, etc...
Lembre-se que o corpo tenta manter um equilíbrio dinâmico, controlando as concentrações de hormônios e enzimas, desta forma, qualquer mecanismo exógeno que eleve a quantidade de alguma substância ou mimetize seus efeitos leva a adaptações que resultam em uma menor produção ou menor aproveitamento dos mesmos em longo prazo. Portanto, os efeitos tendem a se tornar menos evidentes com o tempo e é freqüente retornar ou até excede o peso anterior após a suspensão do tratamento. Outro fator a ser comentado é que os estudos que utilizavam beta-agonistas na redução ponderal foram realizados em sua maioria em obesos e não podem ser indiscriminadamente generalizados para pessoas com a composição corporal fora dos padrões de obesidade.
Há vários riscos de se usar estimulantes indiscriminadamente, portanto consulte um profissional especializado e veja se você realmente precisa destas substâncias e se pode usá-las com segurança.
Veja a segunda parte do artigo para obter mais informações sobre suplementos para emagrecer.
Atenção atletas
Os atletas devem tomar cuidado pois os beta agonistas, facilmente encontrados em descongestionantes nasais, são fatalmente detectados no anti-doping.
Referencias bibliográficas
ASTRUP, A. et al. Enhanced Thermogenic Responsiveness During Chronic Ephedrine Treatment in Man, The American Journal of Clinical Ntrition 42: July 1985, 83-94.
PASQUALI, R. et al. Effects of Chronic Administration of Ephedrine During Very-Low-Calorie Diets on Energy Expenditure, Protein Metabolism and Hormone Levels in Obese Subjects Clinical Science (1992) 82, 85-92
PASQUALI, R et al. Chronic Beta-receptor Stimulation Prevents Nitrogen Loss During Semistarvation in Obese Subjects Int. J. Obesity, 13.1 (1989): 151.
ASTRUP, A e col. .The effect and saffety of Ephedrine, caffeine and Placebo in obese subjects on energy restricted diet Int. Journal of Obesity 16.4 (1992), 269 277.
ASTRUP, A e col. Mistury on Energy Expenditure and Body Compostition in Obese Women. Metabolism: Clinical and experimental 41.7 (1992): 686 688.
ASTRUP, A, et al. The Effect of Ephedrine/Caffeine Mixture on nergy Expenditure and Body Composition in Obese Woman, Metabolism 1(7):686-8 1992
DULLOO, AG; MILLER DS. The thermogenic properties of ephedrine/methylxanthine mixtures: animal studies. American Journal of Clinical Nutrition, 1986 Vol 43, 388-394.
HORTON TJ; GEISSLER CA Post-prandial thermogenesis with ephedrine, caffeine and aspirin in lean, pre-disposed obese and obese women. Int J Obes Relat Metab Disord, 1996 Feb, 20:2, 91-7
RAMSEY, JJ; et al. Energy expenditure, body composition, and glucose metabolism in lean and obese rhesus monkeys treated with ephedrine and caffeine. American Journal of Clinical Nutrition, 1998, Vol 68, 42-51.READING SA Chromium picolinate. J Fla Med Assoc, 1996 Jan, 83:1, 29-31
No comments:
Post a Comment